Newsletter – 16/02/24
- revistasarabatana
- 16 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Essa é a newsletter da revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Trilha sonora para essa edição: Bye Bye Brasil
I
Eis que o carnaval passou, deixando purpurina e muita chuva por aqui. Meu bloco do eu sozinha foi tranquilo e produtivo. Mas me dei conta de que a Sarabatana é um projeto que não me permite pausas longas. Não ainda, e ainda bem!
II
Para mim, 2024 começou (e segue) me provando que as coisas mudam completamente em uma fração de segundos. Recebemos notícias que alteram o curso de nossas vidas irremediavelmente, para o bem ou para o mal. Basta piscar e nada mais está no mesmo lugar. Não adianta mesmo planejar demais.
É como se novas versões de nós, que estavam guardadas no fundo de alguma gaveta que nunca abrimos antes, tenham que ser encontradas às pressas para que a gente possa entrar na passarela da nova vida que se nos apresenta. A nova e sempre mutante vida real. Que seja bem-vinda! Afinal, acho mesmo que, no fim das contas, as grandes mudanças nos ensinam muito. Mesmo que venham acompanhadas de dor.
Na terça, no fim da noite, depois de um entardecer leve e de muita solitude tranquila, encerrei meu carnaval com o aviso de uma reviravolta. Soube que, por uma questão de família, devo voltar em breve ao Canadá.
Bye bye, Brasil, a última ficha caiu…
III
Comecei a escrever essa newsletter na quarta-feira de cinzas, numa manhã branca nascida de uma noite mal dormida de muita chuva em que comecei a ler o Livro Branco da Han Kang – que trata de um luto que ela nem sequer viveu realmente – parte de um estudo para o livro que estou escrevendo agora.
Por isso tudo, me vesti de branco e resolvi muitas coisas práticas antes de abrir o computador para escrever esse texto.
O branco da página gritou mais alto que o susto.
Achei melhor sair, ver pessoas que não conheço e tentar extrair com o burburinho da rua as palavras que se calaram no estômago.
Meu processo de escrita tende a ser muito assim, gosto de escrever sentada em um café, ouvindo a conversa da mesa ao lado. Agora, em italiano, essa língua de que tanto gosto e que também se perdeu quando o espanhol passou a ser a língua do meu cotidiano. O risinho das moças dizendo que pão de queijo soa como pau de queijo. As pequenas bobagens de todo dia que me fazem notar que a vida segue, aqui, alí e em qualquer lugar. E repito baixinho, ainda bem.
IV
Passei a maior parte do carnaval lendo os muitos textos que recebemos em resposta à nossa última chamada aberta. 5 vezes mais do que na chamada anterior. Que delícia!
Dessa vez, vieram textos da América Latina, do Canadá, de Portugal e da África. É muito interessante perceber sutis diferenças na forma de escrever das pessoas, nascidas das diferentes culturas. De minha parte, penso que essa é uma das coisas mais fascinantes da Sarabatana, a abertura para o mundo, o desejo de conhecer mais da nossa literatura (e de nossa própria escrita) na presença de outras formas de escrever.
Por isso mesmo, lançamos recentemente um clube de escrita. A ideia é que tenhamos encontros quinzenais para ler e discutir exercícios, ou propostas inspiradoras semanais. Todo mundo terá a oportunidade de fazer a leitura crítica do texto de outra pessoa do grupo e receberá duas leituras críticas do seu próprio trabalho – uma feita por mim ou pela Lívia e outra feita por um membro do clube.
Se te interessar, corre no nosso site para mais detalhes e vem dividir com a gente a maravilha que é a escrita!
Me diz também se você gostaria de acompanhar a escrita do livro? Ando pensando em escrever mais sobre isso por aqui. Que tal?
Por hoje, é isso, vamos ver onde estarei daqui duas semanas.
Bom final de semana e até já!
Anna
📚Terminei e adorei o Tipos de perturbação da Lydia Davis. O livro traz pequenos contos cheios de esquisitices. E muitas listas! Do jeitinho que eu gosto!
📚Comecei o Nem vem, também da Lydia Davis e estou lendo La ridícula idea de no volver a verte, da Rosa Montero. Ambos para a pesquisa para meu livro, mas também por serem o tipo de obra que gosto de ler: de classificação difícil, inovadora e poética.
📚Acabei deixando o Las primas da Aurora Venturini um pouco de lado. Não porque não estava gostando, mas porque ele é maravilhoso demais e merece um tempo menos conturbado. Quero ler quando puder mergulhar de verdade.
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