newsletter - 02/05/25
- Lívia Vitenti
- 2 de mai.
- 2 min de leitura

Trilha sonora para essa edição: Yumeji's Theme - Shigeru Umebayashi
Salve, salve
Sonhei que eu tinha que escrever um conto sobre o roubo de uma orquídea. Mas não era qualquer orquídea, ela tinha que ser roxa, puxando para o púrpura. Não é a primeira vez que sonho algo assim, tão específico.
O primeiro conto que eu concluí na vida, escrevi a partir de um sonho. Encontrei o nome para um outro conto enquanto dormia, um nome muito peculiar, diga-se de passagem. O Nono Favo. Minha sorte é que eu faço terapia e resolvi compartilhar com meu psicanalista esse presságio. Sim, são presságios. Expliquei sobre o que eu tinha pensado em escrever, a partir desse nome, e ele me perguntou se eu sabia que outro significado tinha a palavra favo. Vocês sabem? Favo é sinônimo de cela. Coincidência? Ou memória? Eu honestamente não posso afirmar que eu conhecia esse sinônimo, mas ele é perfeito para ser usado na história que eu criei.
Sonhar foi a forma que eu encontrei de criar. Paul McCartney sonhou com a melodia de Yesterday e ficou semanas tocando para amigos músicos, e mesmo para produtores musicais, para ter certeza que era realmente original.
Existe uma liberdade muito grande em trazer para a vida desperta o que vivemos em sonho. Eu percebo como algo que me pertence, mesmo que eu tenha sido inspirada por algum livro, música ou mesmo por alguma conversa aleatória. Porque, uma vez mais afirmo, tudo o que criamos nos pertence, é certo, mas é também o resultado de relações e experiências. Penso que quando ficamos em paz com essa constatação, nos é mais fácil encontrar a ansiada “voz própria”.
Vou lançar um livro de contos. O primeiro, justamente o que se chama O Nono Favo, foi inspirado por uma poesia de Vinícius de Moraes. Dois outros contos escrevi a partir de experiências próprias e o último também me veio em sonho, mas o título é fruto de inspiração também: Érico Veríssimo, que por sua vez já tinha se inspirado em Hamlet.
Há muito pouco tempo conheci uma música chamada Orquídea Ruiva, de Gui Amabis, e com certeza a imagem da orquídea roxa puxando para o púrpura veio dela. Mas daí que o conto seja sobre um roubo, já é coisa do meu cérebro e de como ele monta as informações que lhe vão chegando.
Paul McCartney sonhou com uma das melodias mais gravada na história da música ocidental moderna. Correu para o piano para não esquecer, mas ficou semanas achando que seu subconsciente tinha plagiado alguma música. Humildemente, eu entendo o Paul. Tive que recorrer a artigos e pessoas do meio literário para ter certeza que não estava plagiando nem Vinícius, nem Érico Veríssimo, e nem o Shakespeare. Todas me garantiram que não, inspiração é homenagem.
Por isso eu leio, por isso eu escuto música, por isso vejo filmes e estudo muito, tudo o que me interessa. Para alimentar bastante meu cérebro e ter materiais oníricos para que, ao acordar, possa homenagear os artistas que admiro.
Falando em admirar artistas, estou lendo mais uma autora argentina, Selva Almada. Já tinha lido Chicas Muertas e agora estou lendo No és un rio. É incrível como ela consegue trazer terror e crueza em suas narrativas, e ainda assim ser poética.
Até breve,
Lívia
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