Newsletter – 24/11/23
- revistasarabatana
- 24 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Trilha sonora para essa edição: Sex Education official playlist
I
O verão parece ter chegado mesmo a Buenos Aires. Me dou conta à medida que percebo que as duas últimas semanas se passaram em névoa. Estive doente, melhorei, piorei de novo, melhorei de novo. Li bastante e não escrevi quase nada. Trabalhei para preparar a terceira edição da Sarabatana, que vai ao ar esse fim de semana. Pensei e elaborei sobre muitas coisas que se passaram aqui dentro quando estive em Salta. Parece que alguns processos se aceleram quando a gente permite que aconteçam conexões inesperadas. Interna e externamente. No fim das contas, me sinto mais leve, quase pronta para o fim de ano, que, aliás, ainda não sei onde vou passar.
Passei a nomear melhor as sensações e os processos que ando vivenciando em terapia. Um grande passo, afinal, o que não é nomeado não existe plenamente, me parece. Dar nome aos bois (ou aos nossos calos) torna falar sobre eles uma possibilidade mais concreta. Talvez por isso mesmo a escrita tenha um caráter de cura também. Quem sabe não saro minhas feridas com ela? Ou ajudo outras pessoas a tratarem das suas dores?
Tudo isso tem povoado minha cabeça e me feito sonhar com uma vida em que a escrita seja o principal.
II
Tenho pensado muito também sobre a real possibilidade de se escrever qualquer coisa que não seja auto centrada. Afinal, não é possível ver o mundo pelos olhos de outras pessoas. Talvez a questão seja colocar em diálogo os muitos eus que trazemos em nós, aceitando que as personagens são diferentes manifestações de quem escreve. Aliás, como já dizia Foucault, escrever é uma forma de subjetivação.
Mas talvez essas elaborações sejam só um modo de apaziguar meu próprio incômodo com minha incapacidade de sair de mim. De todo modo, “tá na chuva, é pra se molhar”, não é mesmo?
III
Numa nota mais prosaica, conto que fui a um concerto de violoncelos em uma livraria semi escondida aqui em Buenos Aires. A música não me arrebatou, mas a Falena, sim. Queria poder escrever tomando uma taça de vinho lá todas as tardes. Rsrsrs!
IV
Temos notícias interessantes do Brasil, para alegrar esse coração dilacerado com a eleição do Milei para a presidência da Argentina: a Fuvest, que organiza o vestibular para o ingresso na USP, terá, a partir de 2026, e pela primeira vez, uma lista de leituras obrigatórias composta só de livros escritos por mulheres. A medida, que com certeza gerará controvérsias, pode alterar a forma como a literatura será ensinada no país, dada a importância da USP. Os nomes selecionados são: Conceição Evaristo, Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida, Lygia Fagundes Telles, Narcisa Amália, Nísia Floresta, Paulina Chiziane, Rachel de Queiroz e Sophia de Mello Breyner Andresen.
A mim, me parece importante questionar a própria definição de cânones, mas isso é tema para uma tese… O que você acha dessa decisão?
V
Ontem reli uns textos que escrevi em Salta e fiquei bem feliz com o resultado. Tenho tido muito interesse em escrever em fragmentos, como Maggie Nelson, Lydia Davis e tantas outras pessoas fazem. Estou me preparando para escrever alguma coisa assim e ando pesquisando o estilo.
Alguma sugestão?
📚 Acabo de acabar o Mapas para desaparecer, da Nara Vidal. Gostei muito. Uma leitura rápida e fluida, mas que nos faz pensar em muitas coisas importantes, como apagamento, morte, mentira.
📚Comecei a ler um quadrinho da Liv Strömquist, chamado Na sala dos espelhos: Autoimagem em transe ou beleza e autenticidade como mercadoria na era dos likes & outras encenações do eu. É que ando trabalhando minha auto percepção e necessidade de controle. Recomendo!
📚Li também Un lugar guardado para algo, da Luciana Cáncer, escritora argentina que conduziu parte importante da residência em Salta. Um livro forte, triste, mas muito bonito!
📺 Tardiamente, estou viciada em Sex Education. Apenas vejam!
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