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Newsletter - 23/08/2024

Tema de hoje: Author Surrogate Perspective


Trilha sonora para essa edição: Sous la lune, Paris Combo 


Psiu, ei! Tá me ouvindo? Sou eu, a Ilá. Por que você não escreve mais sobre como me senti na praça? Problematiza um pouco mais as viagens do João. Fala mais sobre como eu aprendi a me comunicar. 


Pronto, pirei! Não bastasse a pressão que eu mesma me faço para terminar esse livro, a própria personagem principal também vem me atormentar? 


Brincadeiras à parte, vocês já tiveram a sensação de que suas personagens sussurram o que elas querem que você escreva? Eu sinto isso com certa frequência, e descobri que essa intuição não é só comum, como é uma técnica narrativa, a técnica de perspectiva do autor substituto (do inglês Author Surrogate Perspective).  


Procurei bastante uma tradução recorrente para o termo, mas não encontrei. Nem em espanhol. O que me faz pensar se não se trata de mais uma das centenas de técnicas que brotam ao nosso redor, todas elas com a promessa de serem a solução para a nossa falta de criatividade, nossa procrastinação ou paralisia. 


Independente disso, me identifiquei com a ideia de que podemos usar o princípio da auto-ficção, mas aplicá-la somente a uma personagem. Me explico: o uso da perspectiva do autor substituto envolve a criação de uma personagem que transmite experiências, crenças e visão de mundo do autor, mesmo que a história que está sendo contada não se pretenda auto-ficcional. É interessante também entender que essa personagem não precisa ser a principal. Inclusive, ela pode ser secundária, uma espécie de “voz da consciência” do protagonista.  


Então eu posso, por exemplo, explorar temas ou ideias que me são caras através de alguma das minhas personagens, mas de forma sutil. Uma conversa, uma dada situação na qual ela deva expor sua opinião, ou uma discussão.  Ao me basear em minhas experiências de vida, posso criar uma história autêntica, e essa autenticidade repercute nos leitores, que podem se conectar por empatia ou identificação com o substituto do autor.


É evidente que me sinto contemplada por essa técnica somente quando preciso retratar ou transmitir pensamentos e crenças dos quais estou convicta, e acredito que cabem na história. A técnica se adequa, mais especificamente, a personagem principal do livro que estou concluíndo, porque nele eu exploro temas complexos como colonização, usurpação, domínio e conquista, contados a partir de uma história de encontro e, quem sabe, amor. 


Me despeço deixando vocês com mais essa dica de escrita que, como eu sempre afirmo, não é infalível, nem universal, e pode servir para alguns e para outros não. Eu sou contra qualquer determinismo, já deve ter dado para perceber!


Até breve,


Lívia 






 
 
 

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