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Newsletter – 22/12/23

Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.

Trilha sonora nostálgica para essa edição: Pet Sounds, Beach Boys

I

O que é que houve, meu amor, você cortou os seus cabelos? – Foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar, canta Alceu Valença. Cheguei ao final do ano com esse desejo de mudar. Cortei meus cabelos e andei pelas ruas de Buenos Aires me sentindo linda. Fazendo o balanço de 2023, percebo que foi um ano duro, mas incrível e produtivo: em janeiro a Sarabatana foi apresentada ao mundo, com nossa primeira edição. Lançamos outros dois números, uma newsletter semanal e acabamos de anunciar um clube de leitura (vem ler com a gente!?). Tivemos muito trabalho e muitas recompensas também.

Num tom mais pessoal, me mudei de país duas vezes, tive crises existenciais como nunca antes na história desse meu país, mas também reencontrei amigos queridos de além-mar que não via há anos, conheci novos lugares que me instigaram muito, terminei de escrever um livro. Fui triste e também muito feliz.

Saio de 2023 agradecida e sorridente, que venha 2024!

II

Essa época do ano sempre me faz pensar no meu avô. Ele era uma pessoa brilhante. Foi professor de português por décadas e talvez seja um dos grandes responsáveis pela minha paixão pelas palavras. Nasceu e morreu em dezembro e era na casa dele que as festas de final de ano tinham o sabor que devem ter (pelo menos na minha cabeça). Desde que ele se foi, quando eu tinha 18 anos, parece que comemorar o natal não faz mais tanto sentido.

Tenho uma memória vívida das ceias de natal com os 8 tios, que se tornaram 16 com seus pares, e 20 primos. Muito riso, muita alegria. E meu avô sentado na varanda satisfeito com a família que criou. Lembro das pernas cruzadas em calças claras para aguentar o calor do verão brasileiro, lembro do cheiro, lembro do olhar. E sinto falta a cada natal.

Minha mãe conta que ele teve uma livraria. Acho que não durou muito, ele não tinha muito uma veia de comerciante. Mas termino 2023 com minha tesoura do desejo apontando para algo assim. Ser livreira, editora, revisora? Não sei, mas quero poder olhar para esse meu lado que se perdeu em algum lugar do passado, soprado pelo vento das praias do meu Piauí querido, onde vivia meu avô.

III

Semana passada, fui a dois eventos de encerramento de escolas de escrita. O primeiro, numa livraria lindinha chamada Mercúrio Libros, que me fez querer viver a vida das suas donas, umas moças jovens e muito apaixonadas pelo que fazem. Um grande amigo leu seus poemas, sentado em um sofá com cara de antigo, enquanto a gente bebia vinho e derretia. De calor e de amor.

Dois dias depois, foi a vez da festa de encerramento da escola que promoveu o retiro/residência de escrita de que participei em outubro. Ao contrário do evento na livraria, o encontro da escola do Santiago Llach tinha dezenas de pessoas, um cenário meio underground, música, bar, livraria e um palco onde aconteceram muitas leituras. Foi muito bacana ver aquele mundaréu de gente estilosa interessada em literatura. Tão interessada que a casa ficou lotada, mesmo no dia em que Buenos Aires se tornou um cenário de filme pós-apocalíptico por causa de fortes ventos na madrugada.

Ainda há esperanças!

Então é isso, que possamos ler e escrever coisas lindas no ano que vem, encontrar gente que nos faça sentir que a vida é maravilhosa e, principalmente, que possamos nos aproximar cada vez mais das pessoas que queremos ser. Que sejamos desejantes, delirantes e incrivelmente reais.

Semana que vem faremos uma pausa, mas em janeiro estamos de volta!

Felizes festas!

📚Acabei de ler El Nervo Óptico e gostei bastante. O livro é leve e nos faz passear por séculos de arte, com curiosidades gostosas e texto fluido.

📚Comecei a ler Autobiografia do Vermelho, da Anne Carson, que está na lista de nossas leituras com o clube no ano que vem.

 
 
 

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