Newsletter - 20/12/24
- Anna Davison
- 20 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
2024 está na reta final. Como você se sente?
Trilha sonora para essa edição: Experience, Ludovico Einaudi
I
Final de ano. Todo mundo fazendo listas. Melhores livros filmes viagens pratos. Eu me sinto só flutuando mesmo. Não me sinto capaz de listar nada além das compras que tenho que fazer daqui a pouco. Iogurte pão cenoura salada. Confesso até que tinha esquecido completamente essa newsletter até hoje de manhã. Admito que ando achando que o tempo está passando tão rápido que mal dá tempo de fazer a lista de tarefas de cada dia (que aliás, vem encolhendo nessa reta final de 2024).
Mas não me entenda mal, isso não significa que foi um ano ruim. Pelo contrário, foi um ano de realização de sonhos. Estou publicando um livro, que está nesse momento em uma caixa viajando de Curitiba até Brasília, onde estou, e conheci o Japão, um sonho de viagem que acalento há muitos anos e que me marcou muito profundamente. Além disso, acho que nunca estive tão em contato com os meus desejos como agora. Muita psicanálise na causa!

II
Realizar desejos e sonhos é uma coisa complexa, porém. Acho até que já disse isso antes por aqui. Fica uma espécie de vazio no lugar. É preciso substituir por novos sonhos, mas só depois de ter passado a ressaca da realização dos últimos. Me pergunto se é por causa da idade que esse vácuo deixado demora mais a ser preenchido. Demoro mais para me mexer na direção das novas coisas, mas também vejo que os sonhos hoje são maiores. É que há mesmo mais urgência.
Parece o fim do ano. Nada é diferente de fato entre o dia 20 de dezembro e o dia 7 de janeiro, mas, ao mesmo tempo, é. Porque nós decidimos que é. Porque talvez precisemos viver essa melancolia nos dias que precedem a virada do ano, justamente para podermos estar felizes naqueles segundos que contamos aos berros: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!
III
Nesse balanço de fim de ano (que sim, é uma espécie de lista) vejo um saldo muito positivo, aprendi que vivenciar os sentimentos é sempre bom, mesmo quando é a melancolia quem está dando as caras. Fecho o ano sentindo uma alegria profunda, gratidão (detesto essa palavra, mas não consegui pensar em outra), amor, amor e mais amor, misturados a um medo danado dos meus desejos, uma melancolia cheia de saudade do que passou e o peito aberto para a chegada de 2025.
Agradeço de verdade a quem me lê, acompanha a Sarabatana, troca, me faz me sentir parte de uma comunidade de gente que não foge de suas pulsões criativas. Ser artista não é fácil, mas é lindo!
IV
Para 2025, planejo terminar mais um livro, criar coisas novas com a Lívia para a Sarabatana, me aproximar de mais gente interessante e, principalmente, vivenciar meus desejos. Que sejam muitos!

De presente de natal, para quem é de natal, deixo um poema que escrevi numa praia do Vietnã há quase dois meses:
todos os meus poemas passam
pelos meus dedos longos de pele
agora envelhecendo
as cutículas que se desfazem na mesma
velocidade com que as marés sobem
e descem até lamber tudo
o que foi esquecido na praia
um pé de chinelo de criança
cor de rosa uma cadeira
quebrada uma pulseira
que alguém um dia achou
preciosa embalagem
de sorvete salgadinho chocolate a memória
da primeira vez que se pegou jacaré
Ah, e vamos dar uma pausa por aqui. Curtir as festas de final de ano e cuidar das listas de resoluções para o ano novo. Voltamos daqui 3 semanas!
Felizes festas!
Até breve,
Anna
📚 Tenho lido bastante de novo (uhuuuu!!!), gostei muito de um ensaio da Luiza Leite, chamado A superfície dos dias - o poema como modo de perceber. Recomendo muito o livro novo da Carina Gonçalves, Na frente de estranhos, que traz poemas embebidos de Japão lindos demais e o livro de contos da Carla Kinzo, Ursa Menor, que é de uma delicadeza infinita.
📚 Estou lendo All Fours, da Miranda July. Comecei gostando muito, concordando com todo o hype, mas, antes da metade, comecei a achar meio arrastado. Vamos ver como acaba!
🎥 Fazia tempo que não falava do que ando assistindo, né? Essa semana vi O quarto ao lado, do Almodóvar, e Queer, do Luca Guadagnino. Gostei muito dos dois, mas mais do primeiro. Adoro o Guadagnino, ele chega a rivalizar com o Wenders no meu panteão de diretores da vida, mas achei esse filme meio exagerado. De todo modo, fiquei querendo ler o livro. Você já leu?
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