Newsletter – 19/04/24
- revistasarabatana
- 19 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Salve, salve!
Por um cacoete de profissão – afinal, sou uma antropóloga bastante afeita a lendas e crenças – sempre tendo a colocar o antropomorfismo como algo próprio às religiões e às mitologias. Mas como a escrita está cada vez mais se impondo sobre essa faceta antropológica, me peguei hoje refletindo sobre como o antropomorfismo é utilizado na literatura. Foi um pensamento voltado para um projeto pessoal, mas meu grilo falante sussurrou: que tal fazer uma newsletter sobre isso?
E não é que esse grilo é sabido! Me sentei prontamente e comecei a listar as obras mais famosas que utilizam esse recurso, como Pinochio, Alice no País das Maravilhas, as Fábulas de Esopo, A Revolução dos Bichos. Nesse exercício, pensei que mais que definir o antropomorfismo como a atribuição de traços humanos, emoções e intenções a seres não-humanos, podemos pensá-lo como uma técnica de escrita que nos ajuda a trazer o insólito para a esfera do possível, a tornar o fantástico em familiar. Insufla vida onde antes isso não seria possível e nos possibilita narrar eventos que, de outra forma, não seriam plausíveis.
Dada essa definição, uma entre tantas possíveis, o importante é saber usar essa técnica de modo equilibrado, dando humanidade a um ser não humano sem retirar dele suas características inatas.
E quais são os benefícios do uso de antropomorfismo na narrativa? Bom, um dos mais evidentes está relacionado à criatividade e à inovação, ou seja, ao imaginar o mundo a partir de uma perspectiva não humana, você abre um universo de possibilidades de contar histórias, criando narrativas que se destacam em sua originalidade. Outro benefício, e para mim um dos mais interessantes, é usar a técnica para transmitir uma mensagem. Em outras palavras, ao mascarar questões do mundo real sob a forma de personagens não-humanos, você pode falar de temas sensíveis de uma forma acessível e provocadora, como faz Art Spiegelman na novela gráfica Maus.
Usar a técnica pode ser interessante também para satirizar comportamentos dentro de algum segmento da sociedade, de modo a criticá-los, como faz Saramago em “As Intermitências da Morte”. Ao conferir humanidade à morte, o autor faz com que ela se ofenda com as pessoas e decida abandonar o ofício, provocando primeiro contentamento, mas logo gerando caos e conflitos sociais, que se referem principalmente à Igreja Católica.
Reflita sobre esses exemplos para considerar se essa técnica faz sentido para você. Se a resposta for sim, utilize as dicas abaixo para empregá-la de forma eficiente:
Determine o propósito de usar o antropomorfismo em sua narrativa. Você pretende entreter, educar ou transmitir uma mensagem mais profunda? Esta decisão vai te ajudar a determinar quanto e como você aplicará características humanas a seus personagens não-humanos.
Se concentre no desenvolvimento dos personagens antropomorfizados, estes devem ser tão complexos quanto seus homólogos humanos, com personalidades distintas, motivações e desafios. Mas atenção para fazer com que seus traços humanos sejam consistentes com sua natureza não humana, como justamente, uma Morte caprichosa.
Mantenha um equilíbrio entre os elementos humanos e não humanos. A humanização excessiva pode desanimar leitores que estejam esperando alguma novidade a partir da perspectiva não humana. Da mesma maneira, a subhumanização pode dificultar que o leitor se conecte com a personagem, o que pode ser prejudicial ao engajamento dele com a sua história.
O antropomorfismo é uma técnica narrativa versátil e com muito potencial. Te convido a vir comigo nessa aventura, soltando sua criatividade e sua originalidade. Quem sabe meus personagens conversam com os seus?
Até breve!
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