Newsletter – 14/06/24
- revistasarabatana
- 14 de jun. de 2024
- 4 min de leitura
Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Trilha sonora para essa edição: Quando o que é Prata se torna cinza (vários artistas)
Salve, salve!
Eu passei 10 anos escrevendo uma novela. No começo era uma rememoração, que eu fazia e guardava só para mim. Era um expurgo, um desabafo, um recontar uma história para me lembrar o quanto eu não a queria mais. Por isso que, naquele momento, jamais pensei que um dia seria um material pronto para ser publicado.
Eu estava escrevendo algo que hoje poderia ser classificado como auto-ficção, mas na época eu não sabia. Além disso, como era algo muito pessoal, jamais passaria pela minha cabeça deixar o mundo me ver pensar daquela forma de pessoas que um dia amei.
A verdade é que eu lia muito, mas sabia quase nada sobre o que significa produzir literatura. Não aspirava ser escritora e nem achava que o que escrevia interessaria outras pessoas. Mas o tempo foi passando, eu fui entendendo como o desejo de escrever me interpelava e decidi parar de me esconder. Li e reli inúmeras vezes o manuscrito, fui da primeira pessoa para o narrador onisciente, pedi para várias pessoas lerem, fiz revisões sem sossego e, no fim desse longo processo, entendi que não, eu não precisava mais ter medo.
Peraí? Eu deixei de ter medo? Não foi bem assim! O medo existiu e persiste em mim, mas o que mudou é que fui com medo mesmo. Mandei a novela para várias editoras, até decidir pela edição artesanal. Foi uma experiência desafiadora, assustadora e, embora a palavra gratificante pudesse ser incluida aqui, não foi bem isso. Nos dias, meses e anos que se seguiram após o lançamento do livro, e posso dizer que até hoje, me questiono sobre a qualidade do que escrevo, e sua relevância. Mas há sim algo de recompensador, e é nisso que me fio para continuar escrevendo.
Mas o núcleo da minha mensagem hoje é o seguinte: nós podemos escrever! Novelas, romances, contos, crônicas, poesias. Com medo, com insegurança, antecipando o julgamento dos outros ou cheios de pudores. Minha experiência foi assim, dando o primeiro passo, acreditando na viagem, imaginando meu nome na capa de um livro, conversando com amantes de literatura de forma apaixonada e pensando que se pelo menos uma pessoa gostasse do meu livro (nem que essa pessoa fosse eu), já ia ser suficiente para mim.
Agora, será que alguém entre vocês que me lêem está nesse processo, de querer escrever um livro e não saber por onde começar? Se você está aí, deixa eu te dar algumas sugestões. Algumas delas eu recebi ao longo desses 10 anos, outras eu mesma fui elaborando e por fim algumas encontrei pesquisando, o que por si só pode ser uma dica: alguns escritores recorrem à pesquisa para se inspirar e desenvolver personagens mais complexos, por exemplo.
Bom, para começar, pense em algo que te fascine ou que te intrigue. Pode ser uma pessoa, um evento da sua vida (como no meu caso), um evento histórico ou até mesmo um sonho. Tudo vale, até mesmo um pensamento aleatório que te inspirou. Para trabalhar sua ideia, use um caderno destinado só para isso. Anote suas reflexões, suas observações, alguma cena que tenha chamado sua atenção e, se você gostar, desenhe. O desenho combinado com palavras pode ajudar muito no desenvolvimento de uma trama. Pessoalmente, ter um só caderno, ao invés de anotar meus pensamentos em diferentes lugares, me ajudou muito a me manter concentrada e preservar a coerência na minha escrita.
Busque inspiração lendo diferentes estilos, assistindo filmes, conversando com pessoas e visitando novos lugares. Acontece muito comigo que a inspiração vem dos lugares e das situações mais inusitadas. Pode ser que o mesmo aconteça com você. Por isso, procure por ela em lugares menos óbvios para você.
Enquanto escrevia e reescrevia minha novela, algumas pessoas me perguntavam a qual gênero literário eu estava recorrendo. Honestamente, eu não sabia responder. Dizia que era uma história romântica, mais ainda assim pouco convencida. Como eu disse no começo, hoje eu sei que se trata de uma auto-ficção, e me pergunto como essa definição poderia ter me ajudado no desenrolar da produção do livro. O importante aqui é dizer que definir um gênero literário pode ser uma boa forma de começar a escrever, mesmo que tudo mude ao longo do processo. Escolher escrever ficção-científica, mistério, fantasia nos ajuda a definir o estilo e a estrutura do livro. Pense nos gêneros que você mais aprecia e se deixe entusiasmar para escrever, da mesma forma que você se entusiasma para ler.
Finalmente, vou voltar para a pesquisa. Meu livro está ambientado em Brasília, em algumas cidades do Uruguai e outras da Argentina. Por isso, me ajudou muito me informar melhor sobre história, geografia, literatura e músicas uruguaias e argentinas. O exercício da pesquisa, somado à minha experiência de vida, enriqueceu minha história e me aproximou ainda mais desses dois países que admiro tanto.
Outra vantagem da pesquisa, agora não falando mais necessariamente do meu processo, é que ela nos ajuda a saber se há convenções ou expectativas associadas ao gênero que escolhemos escrever. Mas atenção, ter ciência de convenções não significa que temos que nos ater a elas! O que vale é o conhecimento.
Usar a pesquisa nos ajuda também a conhecer eventos históricos e aspectos culturais que podem deixar nossas histórias mais densas e mais atraentes para quem nos lê. Analisar o passado, refletir sobre o presente são excelentes ferramentas para imaginar um futuro e escrever, por exemplo, ficção científica. No que estariam pensando Aldous Huxley ou Philip K. Dick?
Última dica, faça uma trilha sonora. A que compartilho nessa newsletter é a que criei para o meu livro. Música é minha maior fonte de inspiração!
Até breve,
Lívia
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