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Newsletter - 13/12/24

Trilha sonora dessa edição: Mother Earth Son, Six Nations Women Singers


Salve, salve, 


Ouvi o canto do ganso canadense. Queria que a tradução para o português fosse mais bonita. Os quebequenses chamam essa ave de outarde, e vários povos do tronco linguístico algonquino a chamam de niska. Pois bem, ouvi o canto do niska. Eu estava no segundo andar, em uma sala de aula sem janelas, e ouvi o niska cantar. Nesse mesmo momento, a poeta Joséphine Bacon nos dizia que quando uma palavra é ofertada, ela não morre nunca. 


O niska me oferecia sua palavra. Me oferecia uma viagem também. Me levava com ele para o sul, para o sol. Se hoje eu consigo ver beleza na mudança de luzes do inverno, é porque eu trago comigo uma memória que vai muito além de mim. 



Há teorias que reivindicam que trazemos conosco as memórias de nossos antepassados. Eu não sei se algum ancestral meu caminhou pela tundra antes de chegar em terras amazônicas. Evidências antropológicas e arqueológicas afirmam que sim, alguns povos podem ter ido do norte ao sul do continente americano. Outros talvez tenham atravessado oceanos. 


Gonçalves Dias, em I-Juca-Pirama, fala de manitôs. I-Juca-Pirama é um termo tupi que significa “o que será morto”. Que surpresa a minha descobrir que uma poesia que carrega um nome em tupi, fala de crenças algonquinas. De fato, manitou (em português manitu ou manitô) representa, para os povos algonquinos, divindades ligadas às forças da natureza. Se algum dia o bichinho da pesquisa etnolinguística me picar de novo, parto para essa empreitada.


“Sempre o céu, como um teto incendido,

Creste e punja teus membros malditos

E o oceano de pó denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento,

Manitôs lhe não falem nos sonhos,

E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si (...)” 


Por enquanto, prefiro pensar que alguma tatara tatara tataravó minha tenha de fato passado por aqui, e que tenha deixado para mim esse legado de reconhecer e recuperar uma história que não, jamais, será comprovada por um método científico, mas que me oferta essa palavra, que não morrerá. 


Viajo logo mais para a Patagônia argentina. Vou reencontrar essa outra história que também enfeita a minha sina. Vou, como o niska e meus ascendentes, do norte para o sul. Por isso também entrarei de férias, e vou retomar a newsletter em janeiro.


Muito obrigada a quem me acompanhou no ano de 2024. Anna e eu estamos muito animadas para trabalhar cada vez mais na Sarabatana em 2025, deixando nossa revista ainda mais rica em textos e ilustrações. Quem sabe vem também alguma surpresa por aí? 


Desejo a todas e todos um feliz final de 2024 e um 2025 fantástico. Ano quem vem será de Oyá, Xangô e Obá, que trarão para nós mudanças positivas, justiça, persistência e renovação.  


Até breve,


Lívia



 
 
 

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