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Newsletter - 11/04/25

Atualizado: 18 de abr.

A existência depende da beleza.


Trilha sonora para essa edição: Work Song, Romare


I


Anne Carson diz em seu livro A beleza do marido que a existência depende da beleza. Platão já falava da relação entre beleza e bem. Há todo um ramo da filosofia dedicado à estética, e Keats, com quem Carson dialoga nesse livro, afirmou que a beleza era a verdade e isso é tudo o que precisamos saber.


Eu sonhei que explicava para alguém, não sem tristeza, que tinha feito escolhas que acabaram por encerrar minha carreira. Acordada, senti uma pontada: preciso seguir a beleza.


II


Ontem caminhei pelo centro de Buenos Aires, reparei nos detalhes puramente decorativos dos prédios antigos e fiquei me perguntando quando foi que deixamos de perceber a importância deles e passamos a priorizar só a funcionalidade das coisas?





III


O pensamento natural seguinte, para mim, foi sobre o papel da poesia hoje. Onde é que cabe essa forma de arte que me é tão essencial, mas que, numa mirada rápida, não tem utilidade?


Recentemente, tive uma conversa com uma escritora que admiro, sobre o livro em que estou trabalhando. É um livro, pelo menos até agora, escrito em fragmentos. Eu imaginei que ele poderia ser um livro de poesia e tive esse mesmo feedback de uma outra escritora famosa, há um ano, mais ou menos. Mas, na conversa mais recente, o que ouvi era que se trata de um romance.


Foi um choque!


A conversa se desenvolveu e entendi o ponto de vista dela, que apresento aqui de forma bem simplista: os romances vendem mais, logo, as editoras preferem publicá-los. 


IV


Faz uns meses, vi um vídeo de um bookstagramer em que ele dava dicas para pessoas que queriam começar a ler mais. Uma delas me deixou, de algum modo, triste e surpresa: ele recomendava que as pessoas lessem por prazer, como assistem a séries e filmes, e não para aprender alguma coisa de forma objetiva. Entendo que o que dá prazer às pessoas (assim como o que é a beleza) é absolutamente subjetivo, mas meu espanto veio de me dar conta de que muitas pessoas leem apenas por motivos utilitários. A leitura, segundo essa visão, virou uma ferramenta de estudo apenas, deixou de ser objeto de fruição estética. Que tristeza!


V


Pensando nessas diferentes percepções acerca do livro e da leitura, me dei conta de que há um aparente paradoxo aí: boa parte das pessoas escolhe livros que podem lhes ensinar alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, privilegiam as narrativas longas como os romances. Imagino que podem ser categorias diferentes de leitores e concluo que o paradoxo é só aparente, já que os romances, justamente por serem longos e, na maioria das vezes, lineares, não demandam tanto de seus leitores quanto formas híbridas, ou mesmo poemas. Ou seja, as pessoas já fazem o que o bookstagramer recomenda, elas escolhem livros como se fossem séries ou filmes.


Uma espécie de alívio?




VI


Na minha interpretação do meu sonho, pensar se meu livro deveria ser um romance ou um poema não pode ser uma decisão tomada a partir da busca por vendas, portanto. E, de todo modo, defendo de forma veemente que Keats estava certo. Preciso seguir a beleza, minha verdade!


Até breve,

Anna


📚Com o trabalho para lançar o 7º número da Sarabatana (corre lá para ler, se ainda não tiver feito isso), acabei lendo menos nas últimas semanas. Terminei o livro da Rosário Bléfari, que adorei, li O amante, da gigantesca Marguerite Duras e comecei o livro do Viktor Frankl, Em busca de sentido, em que ele trata de sua experiência em um campo de concentração nazista.

 
 
 

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