Newsletter – 09/08/24
- revistasarabatana
- 9 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2024
Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Trilha sonora para essa edição: The Last of Us, Gustavo Santaolalla
Salve, salve!
Eu gosto de pensar que minha mania de ter muitos projetos é algo positivo, mesmo que a metade deles tenha tido uma curta vida, ou vivam só dentro do meu desejo. Ter muitas ideias, muitos desejos, muitas ambições reflete minha criatividade e um ecletismo que me faz bem, mesmo que a Lívia cineasta, a Lívia atriz e a Lívia pianista tenham ficado para trás. Ou podem ainda estar mais adiante, eu só não sei ainda. Já outros projetos eu realizei e continuo realizando, como a nossa amada Sarabatana, e um livro de ficção científica/distópico que eu sei, um dia verá a gaveta se abrindo.
Mas por que esse projeto não se conclui? Simplesmente porque eu não sei o que ele é. Poderia ser uma novela gráfica, um livro nos moldes clássicos ou até um roteiro de filme. É uma história cheia de elementos, grandes acontecimentos e muitas passagens de tempo, porém com muitos, muitos detalhes. E onde, para mim, mora a dificuldade? Sei que há diferença entre ficção científica e distopia, e casar os dois gêneros pode ser bem difícil. Partamos do princípio básico que a distopia é um mundo imaginário concebido propositalmente como pior que o nosso, mas que em muitos livros de ficção científica as realidades descritas não são melhores nem piores — apenas diferentes.
Livros distópicos, como 1984 e o Conto da Aia , geralmente falam de um mundo alternativo ou de um futuro sinistro, onde algum evento importante – uma guerra, mudanças climáticas, implantação de sistemas totalitários – muda a vida daquela sociedade. Já livros de ficção científica, como Frankenstein ou Os Despossuídos, usam supostos feitos científicos ou técnicos e contêm uma extrapolação cuidadosa e bem informada de fatos, princípios ou tendências científicas, mesmo que a ciência apresentada seja inverossímil, inexistente ou improvável. E é evidente que as histórias podem se passar em outros mundos, universos e galáxias. Vale lembrar que o que trago aqui é uma das inúmeras definições que o gênero recebe e continuará recebendo ao longo dos anos, já que é muito explorado e pode ser altamente desdobrável.
Ao escrever isso, percebi que talvez seja justamente aí que eu peco: querer que o livro seja delimitado por um só gênero. E se eu continuar escrevendo e não for uma distopia até o fim? Pode acontecer algo que transforme aquele futuro terrível uma utopia, quem sabe? E se for um livro de futurologia? Ela cabe também como subgênero da ficção científica. E mais, e se eu não quiser explicar porque a inteligência artificial evoluiu tanto ou como é controlado o ambiente em que as pessoas vivem?
Se tem algo que venho aprendendo cada vez mais, na medida em que vou estudando e lendo novos livros, é que a rigidez ao escrever só mina a minha criatividade e me deixa tensa. Falo por mim, evidentemente, mas acho que pode ser um conselho também: a mãe da criatividade é o fluxo de pensamento livre, que depois será moldado. Posso pesquisar sim sobre técnicas de escrita, ler montes e montes de livros que casam distopia e ficção científica. Posso criar mundos alternativos com certa verossimilhança ou posso especular sobre o futuro do nosso mundo na era do Antropoceno, mas eu só conseguirei terminar essa história quando eu usar a minha própria voz.
O que quero dizer com tudo isso é que estudar faz um bem danado e nos ajuda a evitar erros e deslizes que podem ser muito prejudiciais para nossa escrita. Ao mesmo tempo, quem aqui quer seguir normas que nos engessam? O ponto de equilíbrio, para mim, é saber quando parar. Parar de ler, de estudar, e confiar na própria intuição, conhecimento e talento.
E parar de escrever também. Deveria ser mais fácil aceitar que o texto está pronto.
No dia que meu livro virar série da Netflix eu volto para avisar vocês!
Até breve,
Lívia
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