Newsletter - 24/01/25

Cantar como quem resiste, resistir como quem deseja

Castillo de Mancera, Chile

Trilha sonora para essa edição: Tristeza não, Metá Metá

Salve, salve,

Começar é sempre difícil. Escrevo isso pensando em todas as vezes que fui orientada a escrever a introdução de um texto acadêmico somente após tê-lo concluído. Escrevo isso pensando também em como começos podem ser felizes, mesmo aqueles que são começos só porque uma convenção quis. 

Sempre gostei muito de títulos. Títulos são começos? Eu acho que sim. Como não querer ler um livro que se chama Do Amor e outros demônios, ou como ignorar uma música chamada Scream Poetry? Às vezes gosto mais dos títulos do que das obras em si. Porque o título de um pode me levar a um começo também. Se o García Márquez pensou em uma história sobre preconceito, doenças, dor e um amor sem esperança, eu posso pensar que o amor é um demônio em um ambiente futurista, onde esferas emergidas do mar nos obrigam a amar quem não queremos (alerta de spoiler, este conto sai esse ano). 

Títulos e primeiras frases de livro. Inclusive, taí uma dica literária que aparece com muita frequência: prenda seu leitor desde o primeiro parágrafo. Quem aqui não tá cansada de saber como começa A Metamorfose, mesmo que não tenha lido o livro?  

Para mim, esses começos são inspiração. E ao contrário dos textos acadêmicos, acho que só consigo escrever bonito e com segurança quando começo a partir de algo que realmente me coloca em movimento. Afinal, do amor ou de qualquer outro demônio que viva dentro de mim, eu só posso falar do que eu ainda não sei. Pois sim, talvez eu esteja querendo dizer algo que não devo, que não posso. Talvez seja cedo para dizer que 2025 começou um pouco mais tarde do que deveria, que não nasceu de forma assim tão fácil, como um ponteiro que avança sem muito esforço. Mas talvez eu também esteja querendo dizer que nesse meio que ainda é começo, já podemos fazer rima e poesia, já podemos resistir como quem deseja, como diria Alice Ruiz em uma música que fala de um fim bem no meio e de um começo que não veio. 

Um popular ditado iorubá diz que Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje. Como tudo, podemos dar a essa frase diferentes significados. Eu gosto de pensar no mistério do tempo, e de como nossos meios, começos e fins estão sempre se emaranhando.

Bem vindo 2025, estamos felizes que você tenha chegado e que seja um momento da linda caminhada da Sarabatana. Trabalharemos alegres e desejantes enquanto você durar, e quando 2026 chegar, lembraremos de você com carinho.

E para você que me lê, fica uma dica: a Sarabatana está com chamada para contos e poesia, até dia 05 de fevereiro. Manda um texto pra gente! Olha que forma legal de começar o ano!

Que Xangô e Iansã nos protejam e nos tragam boas transformações. 

Até breve,

Lívia