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Newsletter – 15/03/24

Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.

Trilha sonora para essa edição: Ambient Japan, playlist do Spotify

I

Da cama, olho pela janela e vejo os desenhos que as sombras pintam no casario do outro lado da rua. Pelo brilho, adivinho que a neve que caiu de madrugada cria reflexos que tornam tudo ainda mais vívido.Vejo também muitos fios que, na minha imaginação, vão virar dançantes varais coloridos no verão. O céu está tão azul que é possível ouvir o barulho de ondas do mar quebrando em alguma praia quente e distante. Debaixo das cobertas, com um litro de café na mesa de cabeceira, observo maravilhada meus dedos pulando no teclado. As unhas de esmalte vermelho descascado, o moletom que não é meu e as camadas de cobertores que quase me fazem sentir calor.

Debaixo das cobertas, fecho os olhos e ouço os barulhos do meu estômago, empenhado em digerir o café da manhã que servi para mim mesma na cama. Não escuto nenhum outro ruído além do causado por mim no teclado do computador que, aliás, anda precisando de uma limpeza profunda. Estou sozinha há quase 48 horas e sei da sorte que isso representa. Mas só porque é escolha.

II

Na escrita, noto que não escolho tanto, tenho uma ideia, mas as palavras ganham vida própria e acabam seguindo rumos que não previ. Tem dias em que isso me maravilha. Tem dias em que me irrito com os caminhos, mesmo sabendo que tem algo de profundamente meu nesses processos de perda de controle.

Controle. Essa palavra que me acompanha em cada sessão de análise, há tantos anos. Minha obsessão infinita (acompanhada do olhar para minhas próprias mãos) que tanto me amarra e, paradoxalmente, me dá coragem para ainda tentar escolher (tecer meus fios).

Com o livro que estou escrevendo agora, não tem sido diferente. Sonhei com uma imagem perturbadora e bela que não me abandona e, dela, ou do que minto para mim mesma que é ela, parti para escrever (mais) uma história sobre o que me vai no íntimo. Já faz tempo que tenho zero controle sobre os rumos do texto. Temas e palavras tomam protagonismo sem que eu escolha. Quando noto, estão lá, brilhando como a neve no chão do inverno, que, aliás, é definitivamente a estação desse livro azul-prateado-sumindo-no-pôr-do-sol ao som de ambient japonês.

III

Me diz a wikipedia que ambient music, numa livre tradução minha, “enfatiza tom e atmosfera em lugar de estruturas ou ritmo musical tradicional”. E isso diz muito sobre o que ando produzindo.

IV

Assisti ao maravilhoso Dias Perfeitos há umas duas semanas. Wim Wenders não cansa de me apaixonar. Ainda agora sinto aquela atmosfera de felicidade sutil. A fantástica beleza da vida real. Poesia em sua mais pura forma.

(imagem de still do filme)

Queria ser capaz de dizer tanto com tão poucas palavras e venho tentando esse exercício. Embora, como você pode ver, ao menos nessa newsletter, estou falhando miseravelmente. Fazer o quê?

V

Numa nota menos pessoal (quem é mesmo que eu quero enganar?), estou trabalhando muito para a Sarabatana. Estou de férias do meu outro trabalho, o que não me apaixona, mas paga as contas, e tenho aproveitado para mergulhar ainda mais fundo nesse mar que é a literatura. Que delícia de banho. Recomendo demais!

Nosso plano, meu e da Lívia, é lançar a quarta edição da Sarabatana em duas semanas. Tá ficando linda como sempre! Também estamos trabalhando em um novo site e em cursos e outras propostas. Mas, preciso desabafar, estamos esbarrando em alguma dificuldade de engajamento. As pessoas parecem se animar, mas depois esmorecem. Não sei se é porque todo mundo já tem tantas coisas para fazer, ou se é porque não estamos acertando nas propostas. Se você tiver alguma ideia, me conta?

VI

Numa pausa da escrita dessa newsletter, porém, tive uma conversa muito bacana com a Lívia sobre timing e sincronicidade, sobre como as coisas acabam aparecendo para nós, quando estamos as respirando, sonhando, vivendo. Como quando a gente compra alguma coisa e passa a ver um monte dessa mesma coisa nas ruas.

Então, encerro nessa nota mais otimista, que haja brilho e que as coisas aconteçam na hora que forem mais propícias.

Evoé!

Anna

📚Li essa semana o Notas sobre o luto, da Chimamanda Ngozi Adichie. É um livro-homenagem ao pai dela, morto durante a pandemia. Não me impressionou com outras obras dela, mas o tom pessoal, com jeito de diário, sempre me agrada de alguma forma.

📚Desde minha última newsletter, acabei de ler o Las primas. Genial! O uso de uma linguagem crua, desconcertante e bruta para falar da banalidade da vida é sempre uma surpresa boa. Recomendo, recomendo e recomendo!

📽 ️Além do maravilhoso Dias perfeitos, assisti a Pobres criaturas. Me perdoem, mas tenho que ir na contramão do hype aqui. Achei o filme visualmente muito interessante, mas não gostei do conjunto. Não vi todo o feminismo que li nas críticas, nem achei coerente no que se propunha. Enfim, não é para mim.

 
 
 

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