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Newsletter – 02/08/24

Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.

Trilha sonora para essa edição: Quite a way away, Gareth Dickson

I

Estou em silêncio.

Hoje o Pedro faria 43 anos.

Ontem colocamos no ar um site novo, com a quinta edição da Sarabatana.

Estou em silêncio.

II

Decidi que precisava de um detox. Entendi que queria ouvir as vozes que não calam na minha cabeça enquanto evito ouvir outras vozes. Tem muita coisa acontecendo. Em exatamente um mês faço 45 anos. Penso que já passei da metade da minha vida e que ainda tem tanto que quero fazer. É preciso calar para ver os caminhos.

A publicação do escrever de boca aberta, meu livro de estreia, selecionado com menção honrosa pela editora toma aí um poema, vem ocupando a maior parte dos meus dias. Não sobra muito tempo para escrever, ler, existir. Já estive apaixonada por ele. Agora, vejo muitos defeitos. Deve ser parecido com ter filhos.

Será que eu poderia estar em silêncio se tivesse filhos?

III A Sarabatana já ocupou esse lugar de objeto de uma paixão avassaladora. Nessa época também escrevi muito pouco, li menos ainda e quase não existi para além da existência como editora da revista. Foi bonito também. Agora lançamos nossa quinta edição! Um percurso tão intenso de descobertas e aprendizados merecia uma celebração. Escolhemos fazer isso na forma de uma nova casa. Agora temos um site novo, que reflete nosso amadurecimento. Tá lindo, tenho certeza que você vai concordar.

IV

Estou em silêncio e escrevo essa newsletter. Ou tento. Me pergunto se isso configura realmente estar em silêncio. Se enviar palavras não é também falar. Se o silêncio pode se fazer assim: eu falo, mas, por uns dias, evito ouvir.

Me fecho com minha própria voz. Ela não pode ser calada.

Estou curiosa para saber o que ela me dirá. Sinto que é também uma comemoração. Cresci muito nos últimos anos e tenho tanto a agradecer. Por isso, silencio. Percebo que passo muito tempo pensando na própria ideia de estar em silêncio justamente quando tenho tanto a dizer. Na dúvida, escrevo essa newsletter.

V

Publicar o primeiro livro traz uma gama meio louca de emoções: alegria, medo, vergonha, prazer. O que você quiser nomear! Vejo agora que já tinha experimentado sensações parecidas quando lançamos a primeira edição da Sarabatana e que mudar de roupagem agora traz muito desses sentimentos também. Mas a verdade é que não é possível não sentir todas essas coisas a cada vez que alcançamos algo que, para nós, é grande e belo.

Comecei essa carta pensando em falar sobre esses sentimentos e sobre como a decisão consciente de estar em silêncio amplifica muitos deles. Não consegui. Meio sem pensar, decidi então falar da vergonha:

1 – estarei nua na frente de quem quer que leia o que escrevi. Não tenho escolha.

2 – acho algo ridículo enfatizar que fui selecionada com menção honrosa. Mas a chancela também traz um sentimento gostoso.

3 – será que o que eu escrevo vai agradar? E se as pessoas me acharem patética?

Me envergonho de antemão, fazendo um julgamento que, racionalmente, imagino que ninguém fará e me dou conta de que é preciso me permitir. Então, agradeço aqui à Lívia, que outro dia me convidou a pensar sobre me sentir autorizada a ser o que quer que eu seja em cada dado momento. É verdade, é preciso se permitir a exposição e aceitar o que vem dela. Como é preciso abraçar o silêncio, as luzes e as sombras que dele vêm. No fim das contas, tende mesmo a ser bom.

VI

O Pedro faria 43 anos hoje. Em duas semanas, será o 18º aniversário da morte dele. Meu irmão que se eternizou com 25 anos. O acontecimento que mais marcou a minha vida está prestes a atingir a maioridade. Com ele, sinto que também estou chegando a um novo estágio dessa existência. Sei que o Pedro vai ser sempre um interlocutor importante. Me pergunto o que ele acharia de me ver como hoje sou. Será que ainda seríamos tão próximos?

Escolho acreditar que sim, que segue havendo uma possibilidade de escuta, que a troca, ainda que no meu silêncio, é real.

VII

Para fechar e fazer um leve jabá, deixo o poema que tem o mesmo título que meu livro. Quem sabe você não se anima a comprar ainda na pré-venda?

escrever de boca aberta

vi uma postagem de instagram que dizia que a pessoa estava achando viver muito difícil, mas ela seguia vivendo e comprando flores para a casa. saí para andar num intervalo de chuva e comprei um buquê.

também me comprei um cartão com o desenho de uns óculos em movimento onde se lê

(voir)

les spectacles

(les lunettes)

to try. to see. to clarify

mais tarde, me ocorreu uma solução para não esquecer os textos que vejo enquanto caminho. fazer músicas com eles. cantar no ritmo dos passos as palavras que não chegam à boca. uma tentativa de ver os poemas de boca aberta.

Até já!

Anna

📚Sigo lendo um monte de coisas ao mesmo tempo, mas terminei Não fossem as sílabas do sábado, da Mariana Carrara e Câmera lenta, da Marília Garcia, a poeta que está prestes a roubar o lugar da Anne Carson no meu panteão. Apenas leiam!

📚Escolhi a companhia da minha musa Patti Smith para esses dias calados, estou lendo Just kids, essa lindeza de memória.

 
 
 

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