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casar com a cubana

Maria emanuelle cardoso

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I.

 

aproxima-se

desconhecido

zunzuncito

deixa contigo

apenas o beijo

das inundações:

súbito, então rápido

quente, então forte

lento, então frio

finalmente, severo

 

II.

 

não se entra em queda

não mais

 

III.

 

homemestrangeiroverdeamarelo

clandestino seu paradeiro

trazia uma autópsia do vermelho

com dezenas de contos

sobre o porvir e o passado

sussurrava lento

lento

cansado:

ela era

uma ameaça

uma promessa

mulheres desse tipo

são uma ruína

ver-se por seu andar:

ela se põe perversa

ainda não veio

mas regressa

mulherredemoinhobichorubro

ronda a autoestrada

pragaespectro

uma mulher dessas

se põe assassina

por isso foi então

assassinada

 

IV.

 

em outro ontem:

um albergue serve

cuba siempre fue libre

 

V.

 

ao longe ouvimos as preces dos canalhas:

assim como na América do norte a do Sul

perdoai o homem de bem que mata

porque ele mata em nome de Deus

para livrar a família de bem do mal,

 

VI.

 

acordando a memória

da ressaca nacional

não queremos

rodelas

de democracia racial

em nossa bebida

se aqui pisamos

fincamos os pés

 

VII.

 

teve gente aqui

tem gente aqui

terá gente aqui

 

VIII.

 

sobre sua bancada choverá

um jato quente e violento

de afrovômito

 

IX.

 

soa como chuva ao redor

ácida

nessas segundas do domingo

escuta-se as preces

dos embriagados de abismos

na catedral dos falsos espelhos:

mágico aparecimento bancário

mágico desaparecimento dos bancos

 

X.

algumas morreram nas ditaduras

algumas continuam desaparecidas

as ditaduras nunca morreram

 

XI.

também cairão seus euroolhos

primeiro foram as palmeiras

então os povos do Pindorama

depois a pele

campestreurbana

 

XII.

 

quando diante

de um autorretrato

verde-amarelo

nostálgico

os devotos

nunca

são trágicos:

tenha fé

há de passar

tudo passa:

passaram as caravanas

passaram o chicote

passaram a boiada

passaram as motosserras

passaram o veneno

contaram o espaçotempo

como intervalos de genocídios

 

XIII.

 

nada disso

soaria como ecocídio:

nossa plantação de abóboras

e camomila

a criação de gatos

e galinhas

 

XIV.

 

misticismo nos olhos das gentes

sendo acariciados

pelo tom dos cultos

em outros tempos

discutiríamos

a Via Crucis

sua neoliberalização

 

XV.

 

o vento, o nada, a água, os espelhos

é possível alimentar-se deles

é possível ver-se neles

dizem eles

eu digo:

não é possível comprá-los

 

XVI.

 

o mal querer

instaurou-se

o desamor

está inacabado

o solo também

com problemas de expediente

sutil, ainda há movimento

recordação:

só se respira

gritando.

Número 8

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