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Carmen maria
machado

In the Dream House

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resenha

In the Dream House, Carmen Maria Machado encontra diferentes e criativas maneiras de falar sobre um relacionamento abusivo entre duas mulheres.

A obra In the Dream House, de Carmen Maria Machado, se anuncia como um livro de memórias. Mas, logo ao começar a leitura, nos deparamos com mais do que isso, porque, por meio de uma experimentação narrativa, a autora nos oferece contexto e reflexão, ao incluir ensaios que discutem a complexidade do abuso que pode ocorrer em relacionamentos homossexuais, sobretudo entre mulheres. São páginas repletas de citações de fontes secundárias que abordam como existe, no contexto social da autora, uma tendência a ignorar ou não reconhecer a possibilidade de abuso sexual, emocional e físico, entre outros, na comunidade queer. Assim, Machado desenvolve seu livro tendo como pano de fundo a discussão sobre a possibilidade de que os relacionamentos afetivos entre mulheres possam ser abusivos.

Ao escrever sobre seu relacionamento, a autora se concentra em narrar, de forma cronológica e bastante hábil, como ela conhece sua parceira, identificada somente como “a mulher da Dream House”, como a relação se inicia, seu desenvolvimento, o forte e recíproco desejo sexual, o fascínio por amar e ser amada, suas fragilidades e o horror de conhecer a faceta agressora de sua companheira.

Além dos ensaios e dos relatos de memória, Machado nos brinda com capítulos construídos a partir das principais ideias e metáforas que estruturam o livro: sonhos, desejos e a casa dos sonhos. Transmitem os momentos mais difíceis e violentos de sua relação, em segunda pessoa. Assim, ela fala consigo mesma, buscando fixar uma memória ou dar a si mesma um conselho.

You cried in front of many people. You missed readings, parties, the supermoon. You tried to tell your story to people who didn't know how to listen. You made a fool of yourself, in more ways than one. I thought you died, but writing this, I'm not sure you did.

"

Histórias sobre violência entre casais são abundantes, as pessoas escrevem sobre o tema e seguirão escrevendo. O que diferencia a história de Machado é realmente a estrutura do livro. Ainda, para aqueles que se sentem desconfortáveis em ler sobre relações abusivas, a autora não vai longe demais. Utilizando recursos ensaísticos, Machado nos retira dos momentos tensos de forma abrupta, o que pode ser um anti-clímax para alguns leitores, e um alívio para outros. O que ela de fato apresenta são trechos, vislumbres de uma vida que podemos imaginar e, o que é mais importante, com a qual podemos nos identificar. Ainda que esse recurso, assim como a forma que Machado estruturou seu livro, possam ser entendidos como uma maneira de ocultar aspectos de seu relacionamento, é inegável que se trata de um trabalho implacavelmente honesto, e isso torna a experiência mais real.​​

Carmen Maria Machado fez um trabalho admirável em abordar um assunto tão difícil, e de maneira inventiva e atraente, embora cansativa e um pouco desconexa em algumas passagens, dado o excesso de citações e notas de rodapé, ou ainda nos capítulos em que utiliza um recurso semelhante ao presente em “O Jogo da Amarelinha” de Julio Cortázar, nos quais ela sugere ao leitor que dê saltos ou alterne capítulos. Nesses momentos, sua linguagem se torna muito rebuscada, e há um excesso no uso das imagens e metáforas. Ainda assim, é uma leitura que vale a pena pela inventividade da autora, e pela sua coragem de expor suas vulnerabilidades.

Título: In the Dream House

Autora: Carmen Maria Machado

Editora: Graywolf Press

Ano: 2019

Páginas: 264

Capa (arte): Alex Eckman-Lawn

 

Edição 5

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