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CoraçÃo de Velho 

Lívia Abrahão

Coração de Velho - Lívia Abrahão

        E que desejasse que os sulcos negros da crosta terrestre fossem meramente parte da
ficção
        E que pudesse pular nadar gritar tão alto alto nos penhascos e se perder nos ecos do
submundo
        O ar poeirento da velha casa do velho coração coração de velho inebriam minhas
narinas cobrem meu corpo o copo acinzentado de poeira marca ainda seu LJ no vidro velho velho como eu velho como o amor
        Corre corre
        Não para chega
        Caímos no chão da grama cor vermelha igual ao sol subiram umas gotas da chuva
anterior e ela estava encharcada e eu também e rimos rimos mas arranhei a batata da perna e o braço e o peito enquanto rolava e ria e chorava
        Calma seu pai não vai brigar não toma posso te dar essa caneca de vidro pode botar
remédio ou guardar perto do seu coração
        Um brinde Amigos e que façamos um brinde Aos corajosos heróis do mundo real em
quanto tempo me acharão adormecido contaminado pelos ácaros devorados pelo verme da paixão de dentro para fora deixando aqui tudo oco oco Aos heróis destemidos
        Quebro o copo e junto os cacos grandes escritos LJ separados e junto
        Pois separo-os novamente e levo à mão e fecho

        A camisa branca com um fio único um traço fino totalmente reto cor-de-amor carimba
o centro exato do meu corpo e derrama até o chão da varanda
        Você o ama
        Você o ama Lívia
        A cor do líquido o exato tom que escorre por mim era novamente o céu daquele dia
frio o cheiro de grama molhada açaí terra espirrada e cortada gritava tanto quanto eu o sol
esguichava sangue
        Você o ama

        Eu te amei
        Da varanda posso ver a igreja e a grama queria poder entrar dentro dela como um
inseto e a chuva forma uma poça e respinga pinga o sino da igreja avisa a metade exata do dia
        Tiro as roupas ensanguentadas e as dobro as deixo em cima da cadeira com uma carta
e os cacos de vidro
        Abre-se então no meio do mar de chuva no meio da grama uma fenda negra tão bela
quanto ela
        E que posso enfim pular e nadar na grama me deliciar com o cheiro de chuva só não
poderei gritar os vermes comerão minhas cordas vocais e minha alma e tento gritar alto alto mas só me basta olhar a carta os cacos a grama molhada o coração de velho caiu no
submundo

Edição 5

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