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Newsletter – 22/09/23

Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.

Trilha sonora para essa edição: Reflection, uma playlist que ando ouvindo do Spotify

I.

O processo de criar a Sarabatana começou, como é de se esperar, muito antes da publicação de nossa primeira edição. Como um projeto paralelo, desenvolvido nas horas vagas de nossa rotina de trabalho regular, acaba que demoramos (muitas vezes mais do que gostaríamos) um bom tempo para conseguir dar vida a todas as ideias que nos surgem enquanto caminhamos na rua, ouvimos um podcast, ou fazemos um dos nossos brainstormings semanais. Mas é a Sarabatana que nos tem feito sonhar alto, mesmo que nem sempre consigamos dar vazão aos projetos na velocidade em que eles nos ocorrem.

Na rebarba de ter feito 44 anos, venho pensando muito sobre o tempo das coisas. Sempre fui do tipo que não amadurece muito as ideias, daquelas que simplesmente fazem e depois pensam. E, muitas vezes, se arrependem. A Sarabatana e o trabalho com a Lívia têm me ensinado que pensar com calma, dar tempo ao tempo, como diz a frase clichê, pode mesmo fazer com que as ideias criem raízes, se fortaleçam e, só então, saiam do fundo da terra. Temos muitos planos para nossa revista megafone. Temos muitos sonhos para nossos próprios futuros profissionais. A maioria deles se conecta. E, para isso, sabemos que precisamos ter paciência. E trabalhar muito. Mas, ah, como é bom criar essa nossa filha!

Ainda assim, ando sofrendo de um enorme medo de não viver tudo o que queria viver. O famoso FOMO, na sigla em inglês, vem perseguindo minhas noites, já não tão bem dormidas. O exercício da escrita não tem acontecido na frequência que eu gostaria (nem os exercícios físicos, nem os passeios sem rumo que tanto me alimentam a criatividade). Tivesse eu outra analista que não a minha e diria que estou vivendo a famosa crise da meia idade. Fato é que as horas parecem poucas para o tanto que queria poder produzir. E menos ainda para o tanto de ócio que gosto de poder vivenciar.

Recentemente, meu companheiro e eu conversamos sobre ficarmos por aqui um tempo mais longo do que temos ficado nos lugares. Nos últimos 24 meses, o máximo de tempo que vivemos em um mesmo país foi cinco meses. Eu percebo que ter uma rotina me ajuda a produzir mais. Mas pensar em ficar me deu um certo frio na barriga que ainda ando a digerir. Parar significa dar espaço para o tédio. Que é diferente do ócio. E isso me assusta. E, assustada, fico ainda menos criativa. Consumo os dias pensando em formas de escapar.

Ainda assim, temos novidades acontecendo. Em breve vamos lançar nosso clube de leitura. A ideia é que ele seja semestral, mas quem quiser, pode ir e vir, participar das discussões dos livros que lhe interessam, sem compromisso. Para o primeiro ciclo, vamos ler autoras argentinas contemporâneas. Mulheres que estão escrevendo hoje, ao mesmo tempo que nós. Um interesse muito meu que, há uns anos, venho lendo muitos autores contemporâneos. Gente jovem, ou nem tanto, produzindo nesses tempos loucos que vivemos. Com pandemia, sem pandemia. Mas com amor e com afeto. Tá bom, sei que soa brega, mas às vezes é preciso assumir também esse meu lado. Rsrsrs!

II.

No final de semana fomos ao Uruguai. Tão perto e tão longe da realidade de Buenos Aires. Tudo parece menos bem cuidado e os preços são muito mais altos que na Argentina. Estava frio e era uma despedida dos meus pais, que voltaram para o Brasil ontem. Não sei se por isso, ou por estar lidando com meu próprio envelhecer, mas tudo se passou meio em névoa. Ainda assim, pensei muito sobre as sutis diferenças de linguagem, que aparecem na língua mesmo, mas também nas propagandas, nos espaços, no que parece relevante para cada povo. Por lá, o ativismo vegano está presente em muitos cartazes espalhados pelas ruas. Todos com uma estética semelhante e que chama a atenção com facilidade. Ou, pelo menos, me chama.

Na verdade, acho que esperava um Uruguai super desenvolvido, pari passu com as políticas sociais sem igual na nossa América do Sul. Mas o que encontrei foi a realidade dessa mesma América, que é fácil de esquecer nas belas ruas da Buenos Aires que eu vivo. E que, sim, sei, não é a realidade da Argentina.

O lado mais legal da viagem para mim foi imaginar a Lívia vivendo ali. É em Montevidéu que se passa boa parte de seu livro Quando o que é Prata se torna cinza, que você pode comprar aqui.

 

Ah, também foi lá que me dei conta de que acho que o espanhol soa mais bonito quando falado por crianças!

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(Buenos Aires vista da balsa para o Uruguai)

III.

Ontem fui levar meus pais ao aeroporto, que fica dentro da cidade, e resolvi voltar para casa a pé. Fazia tempo que não andava tanto tempo sozinha. Sempre escrevo muitos textos mentalmente nessas horas, que depois acabo por esquecer. Mais tarde, me ocorreu que talvez uma solução seja fazer músicas com eles. Cantar no ritmo dos passos as palavras que nem sequer chegam à boca. Logo eu, que não sou nada musical. É que ando interessada em outras formas de organizar meu processo de escrita. Você também pensa nisso?

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IV.

Estamos com chamada aberta para o envio de textos inspirados em viagens até o dia 25/09. Sei que está em cima, mas ainda dá tempo! Vamos adorar ler os textos que nos forem enviados e estamos trabalhando em uma edição bem bonita. Para mais informações, clica aqui. Se conhecer alguém que possa se interessar também, compartilha! 

Vamos juntas!

Até semana que vem!

📚Estou lendo The Buddha in the Attic da Julie Otsuka, um livro escrito de forma muito interessante, num plural difuso que abarca muitas realidades de mulheres japonesas que imigraram para o os Estados Unidos no início do século passado como noivas por correspondência, ou coisa que o valha. De um ponto de vista técnico, o livro impressiona, mas talvez a falta de possibilidade de identificação com uma personagem concreta esteja tornando a leitura arrastada para mim.

🎧O último álbum do Ryuichi Sakamoto é lindo e combina bem com os dias cinzas desse fim de inverno/ início de primavera Porteño.

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