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domingo cisneros

La Coyota

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resenha

La Coyota (2025), de Domingo Cisneros, nos faz atravessar fronteiras. De norte a norte, em 15 textos, viajamos do México ao Quebec, atentos e fascinados.  

“Quando os primeiros calores chegaram, meu corpo começou a se decompor. Durante o inverno, quando eu estava coberto de neve e de gelo, o mesmo lobo me visitou duas vezes.” É com frases tão desafiadoras que La Coyota, de Domingo Cisneros, nos envolve desde as primeiras páginas, tornando difícil interromper a leitura.

Ler Cisneros é escutar o som do degelo, imaginar-se árvores, é experimentar múltiplas realidades ao mesmo tempo — entrelaçadas, distintas, porém igualmente vivas, e geralmente sofridas. Em La Coyota, o autor nos transporta para territórios fronteiriços, onde diferentes “nortes” coexistem em tensões profundas, aproximando e afastando realidades marcadas pelo exílio, pelos pertencimentos múltiplos e pelas complexas relações sociais.

 

Seria possível desejar que as histórias da coletânea fossem distópicas, mas a realidade do universo literário construído por Cisneros é um lugar de tensões bastante presentes.

Ao abordar temas como a beleza da natureza e as forças destrutivas que a ameaçam — seja nas florestas boreais do Quebec, seja nos desertos do norte do México, ou a nos apresentar personagens como la Coyota, heroína que conhece intimamente o deserto, capaz de ajudar os imigrantes a atravessarem as fronteiras, Cisneros nos joga na cara a marginalização, a violência contra povos indígenas e migrantes, bem como as feridas da colonização e do narcotráfico.

O livro é composto por quinze contos: Ao pé de uma árvore; No lugar dos sonhos; Eustache Ouananiche; Fileira de trutas; Lago Carcajou; Torrencial; Uma vez por todas; Dois expedientes; O ouro das árvores; Migalhas; A Coyota; 12 Rounds; O último mitote; Você nunca mais terá nada de mim; Você não sabe nada.  ​

Tais contos, cujos títulos já nos dão bons indícios de seus conteúdos, compõem uma galeria de personagens à margem da sociedade, vivendo entre breves

“E as borboletas! Ah, como num sonho. A delícia de ser comido por elas. Uma experiência inesquecível."

"Quando o fogo reviveu, vi melhor a cara dela. Fiquei de boca aberta. Seus olhos eram dourados, como se irradiassem sua própria luz. Sua boca era grande e carnuda, mas sem dentes. Seu nariz, muito aquilino. Ela um grande sorriso. E ela não parava de falar - sussurros, sem levantar a voz, olhando para o fogo." (Domingos Cisneros, La Coyota) 

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lampejos de esperança e destinos trágicos quase inevitáveis.Numa linguagem que se evoca como um espaço de resistência, Cisneros nos brinda com histórias que se  entrelaçam em um mosaico polifônico que resiste ao silêncio imposto. ​A obra recusa a neutralidade: é uma escrita que se posiciona, que denuncia injustiças persistentes contra povos originários e imigrantes.

 

A impermanência permeia toda a coletânea, mostrando que onde há tragédia, há também alívio — ainda que o contrário também seja verdadeiro.​Domingo Cisneros é um escritor de origem mexicana radicado no Quebec há várias décadas. Sua escrita equilibra perfeitamente o francês de seu cotidiano com o espanhol de sua terra e de seu coração. Há muito simbolismo, lirismo e crueza, o que à primeira vista poderia parecer de difícil equilíbrio, mas que, em sua escrita, se acomodam perfeitamente. ​

(NdA: todas as traduções foram feitas pela autora da resenha). 

Título: La Coyota 

Autor: Domingo Cisneros 

Editora: Mémoire d'encrier, Montreal, Canadá 

Ano: 2025

Páginas: 254

 

Número 8

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