
Reseña del libro Distancia de rescate, de Samanta Schweblin

Amanda não entende o que lhe acontece. David tenta ajudar, mas é ela que precisa lembrar-se e compreender. Amanda talvez esteja morrendo, e quer saber onde está sua filha, mas David lhe diz que isso não é importante. Em sua primeira novela, Distância de Resgate, a escritora argentina Samantha Schweblin nos apresenta uma história de almas intercambiadas, águas contaminadas e as complexas e por vezes tensas relações entre mãe e filhos.
O relato nos apresenta duas mães, Amanda e Carla, e seus respectivos filhos, Nina e David. Amanda e Nina estão de férias em um povoado argentino, levando a vida pausada que oferece o lugar. Mas há uma tensão permanente. Um mistério e uma urgência no que parece ser a necessidade de salvar as crianças, todas elas, daquele lugar. Carla enfrenta essa realidade ao ver-se compelida a levar o filho, David, para ser atendido por uma senhora reconhecida na região pelos seus poderes de cura. Entretanto, o resultado do processo é um David visto por Carla como peculiar e assustador. Outro David. Carla conta a história de seu filho a Amanda enquanto ambas estão à beira da piscina. Somos levados a imaginar Carla em seu biquíni dourado, a sentir o calor acachapante e úmido do verão, o possível alívio que a piscina e o copo de limonada podem oferecer e, irremediavelmente, sentir o fio invisível que se estica e se tensiona entre Amanda e sua filha Nina.
“Fico pensando se poderia acontecer comigo o que aconteceu com Carla. Sempre penso no pior. Agora mesmo estou calculando quanto demoraria para sair correndo do carro e chegar até Nina, se ela corresse de repente para a piscina e se atirasse. A isso dou o nome de ‘distância de resgate’, que é como chamo a distância variável que me separa de minha filha, e passo a metade do dia fazendo esse cálculo, embora sempre arrisque mais do que deveria.”
A ação que ocorre é mínima. O texto do livro é o diálogo entre Amanda e David, o qual é apresentado numa longa sequência ininterrupta. Ambos estão preocupados com os vermes no corpo dela, mas ela está mais preocupada com Nina. David se obstina em fazer-lhe perguntas, pressionando-a a narrar os acontecimentos prévios à sua chegada ao hospital, insistindo que lhe resta pouco tempo para precisar o momento em que começaram a surgir os vermes, explorando assim o sentido de uma das frases determinantes do livro: “O ponto exato está em um detalhe, é preciso ser observador.” Somos apresentados dessa forma a uma Amanda confusa, febril, que se repete em sua narrativa, buscando de alguma maneira dar-lhe coerência.
A história apresenta um fio narrativo que instiga e incomoda, e se desenvolve em uma atmosfera hipnótica e insólita. Samantha Schweblin fala, se questiona – e nos questiona – sobre cataclismos. Afinal, existe por acaso algum apocalipse que não seja pessoal?
Distância de Resgate é um livro que desenvolve sua própria mitologia para explicar os vermes e a estranheza persistente de David, que envolve perigos invisíveis e o poder de uma curandeira, mas nada chega a ser explicado. Trata-se de uma narrativa fluida, amorfa, e se entende que não há busca por coerência da parte da autora. Depreende-se, ao contrário, que ela nos submerge em um pesadelo inescapável, como se fôssemos Amanda deitada na cama, sem saber o destino de sua filha e ameaçada por vermes, sendo levada a reviver suas desventuras por uma voz incansável e implacável. Enfim, é um livro cujo final fica aberto a interpretações, no qual aspectos fantásticos e verossímeis estão perfeitamente equilibrados.