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Resenha do livro Diorama, de Carol Bensimon
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Título: Diorama
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Autora: Carol Bensimon
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Editora: Companhia das Letras
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Ano: 2022
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Páginas: 288
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Capa (foto): Elisa von Randow
Cecília Matzenbacher é taxidermista nos Estados Unidos, enquanto tenta lidar com as sombras do passado e as crises da vida adulta. Ela é a narradora que nos conduz em Diorama, um livro potente, misto de romance de formação e trama policial, que prende o leitor do começo ao fim.
Estruturado em dois tempos, Diorama, o último livro da brasileira Carol Bensimon – ganhadora do Prêmio Jabuti de 2018 com o romance O clube dos jardineiros de fumaça – reconstrói em ficção um crime real que chocou Porto Alegre nos anos 80, ao mesmo tempo em que nos apresenta de forma delicada e sensível o amadurecimento de Cecília.
Bensimon oferece ao leitor, através de um texto envolvente, a solução do crime, nunca resolvido na vida real. O faz a partir das memórias infantis de Cecília – relatando como o pai, o deputado Raul Matzenbacher, foi acusado de matar o amigo e também deputado João Carlos Satti, supostamente por ciúmes da esposa – e das reflexões de uma Cecília adulta, lutando para fugir de tudo o que a lembre desse passado.
“(…) minha vida tinha de fato começado quando saí do Brasil em 2002.“
Nessa versão ficcional do crime, aparece outro motivo para o tiro de espingarda que matou Satti. Um motivo calcado em preconceitos e medos, forte como as vivências presentes e passadas da protagonista, que nos são apresentadas, ora tendo como pano de fundo um retrato fiel do Brasil no início da redemocratização, ora a vida adulta de Cecília, seu trabalho, casamento, amigos, se desenrolando em outro momento delicado da vida política do país. Tudo isso entremeado pelas percepções da narradora sobre caçadores, taxidermia, amor, desejo e família.
“Tentei muitas vezes explicar meu pai a mim mesma. Ele se tornara deputado quase sem querer em um momento histórico de muitas incertezas, mas também de alguma esperança. A esperança é insistente no Brasil“. Talvez por isso nos seja permitido vislumbrar a redenção de Cecília.
Enquanto cuida de animais empalhados exibidos em dioramas – de onde Bensimon tira o título de seu livro – Cecília recebe a notícia da morte iminente do pai e precisa revisitar lugares dolorosos que tinham sido deixados no passado, trazendo à tona uma intricada história de família, quiçá mais real do que a vivida pelos personagens de carne e osso nos anos 80, ou no presente conturbado que mal compartilham.
Em meio a reflexões profundas acerca da vida, da natureza e do que os segredos podem causar, nós leitores somos levados por Cecília a pensar sobre violência, sexualidade e tudo aquilo que carregamos do passado, mesmo que pensemos que as feridas já estejam fechadas. É que mesmo quando não vivemos um passado de brutalidade, crime e preconceito, o texto de Bensimon nos faz sentir de forma inquietante e viva o que sentem a menina Cecília e a mulher que ela se tornou.
Diorama é, segundo o dicionário, como nos mostra Bensimon no início de sua obra, a “representação de uma cena, onde objetos, esculturas, animais empalhados etc. inserem-se em um fundo pintado realisticamente”. Aqui, Diorama é representação de uma vida, com seus objetos, esculturas, animais empalhados etc. pintados em tons quentes e reais.