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Sarabatana - Revista Independente de Literatura - Edição 5
Procissão 

Hugo Rodrigues

Sarabatana - Revista Independente de Literatura - Edição 5 -Procissão - Hugo Rodrigues

Capítulo 1 – NOMEARAM DESTINO

Foi quando e veio ao mundo que lhe haviam dado missão. Nomearam Destino.

A honra de pertencer à vida e percorrer a chance quem deu foi somente a mãe. Ela lhe deu isso e nada. Não que o abandonou, não. Ele herdou as angustias e com ela a estima. Dos processos que não cessam de nossa escuridão.

A sua história antecedia a de todos os heróis. Os heróis lhe deviam obediência. Ele lhes ensinou a contar a tragédia, e narrar os épicos. Fora forjado nas filosofias dos preceptores.

De casa em casa, sempre roça. 

Trabalhou e aprendeu a faca, aprendeu a terra e ralhou suas indignações. E afiou unhas, língua e lâminas. 

Contou a vida numa geometria espetacular e heptagonal, como vida de gato, sete em sete., sei lá, pois, foi na escola, primeira série.

Do nascido aos primeiros sete foi de ninguém, era próprio de ser ele, Destino.

 

Infância é difícil. 

O infeliz cresceu, crescendo nunca acaba. Ciso. E até o dia que viu, a primeira vez num livro, não na escola, copiava, mal da educação, viu na gravura de um retrato a imagem, era do mar. Nunca teve pai, quis aquele. 

Decidiu, tinha 14. Antes disse a primeira palavra, socorro. Teve cor favorita a cor que habitava o largo para cima nos dias que nuvens visitavam trazendo consigo o poder do céu chorar.

Jogou gude, cicatriz uma na boca depois de comer pequi e morder. Caliandras. Pequizeiros retorcidos foi o abraço que conhecia. Sempre nos cantos, no ver do cotidiano, suas poesias. Compreendeu todo o sistema de castas que amarra o cão ao seu vômito. 

Filas para os ossos. Fumava tuberculose, doenças do sexo, infarto, luto.

O padrinho falece, sete palmos. Tempo ido corpo muda, nem homem ainda, enterrou. Próprio do destino é esse lugar. Não sou teu pai, dizia o velho. Isso marca. 

De onde veio não sabia. Ventre. Óbvio. Nesse meio ir foi quando viu água descendo em declínio e escorria veloz, e trombava na escultura milenar, rocha.

Derrubava demostrando sua imponência. Ouvia pedra cantar, Oxum resmunga. Era anu-pretinho-urucum, era Oxum para ele. Profecia: perguntou para onde vais tu? Vou para o mar, retruca. 

Lia as palavras mudas das pedras ao redor. Fazia uma leitura idiomática ancestre nas picturas que encontrava nos rastros da sua fuga. Contava as estrelas para saber que tempo existia lá.

Destino era sujeito feito sem coragem. Precisou se alimentar do leite das fêmeas em prenha, disfarçado de novilho percorria a relva savana mata onde pudesse ter colo.

Oráculo ao destino pertence. 

Visitou Gerais, caboclo Milton vinha sempre acobrir como os da guarda. Guardião incorpora, leva para o resto da. 

Cantarolava Milton como rezo, benção, ora no ar, rezava Pai Grande sempre antes de dormir, ou no enfrento do perigar.

Foi com o circo, brincou palhaço. Havia infância, estava lá. Aprendeu a andar na corda bamba. Gostava do som dos aplausos, por isso fecha os olhos quando finda o espetáculo. Fez amigos.  Conheceu o sexo. Ela era indígena, amor de mata, lua de prata, ele quis espírito santo, Piúma-Iriri ela chamava. Ela. Chamava. Ele ficou 7 e criou razão. 

Capítulo 2 – MIL MEDÉIAS

Já sabia que na humildade ninguém retalia. Fiava ela. E na dimensão possível do palpável a razão é como a matemática e assim ante a, de ser volumoso, ouro suficiente para ser mina.

Três vezes o sete e a maioridade. Lugar não tinha lar, logo não tinha saudades, isso que está entre o adeus e o fica, e que no silêncio ecoa funesto. O espaço de ele foi só. Tinha nome e filiação. Mãe. Toda a culpa são delas. Culpa é o jeito quando não se diz fui eu. Ou não fui eu. Culpa é o avesso do silêncio.

Coisa que escolheu melhor foi não aprender a ler, para não saber o nome de nenhuma desgraça. Não tinha julgo, acreditou na inteireza matula pão cantil fugiu.

Vinte e um e muitos outros, filhos fez. Demasias, assumiu nenhum, comprava cigarros. Repetia a fortuna, ciclos de Brasil. Sem se dar, não por coitado feriu demais as mulheres.

Quase 40, e os que seguiam. E a vida lhe ensinou agouros sem esgotamentos, paulatinos suficientes para no corpo todas as pragas rogadas. Feitiços de mil Medéias. 

Vinte vezes duas vezes, homem. Vieram todos os outros no diante que conheceu lonjuras, procurava rio nos rastros de ver teu pai. Nenhuma certeza de que lado fica o mar. 

Todas as direções são possíveis.

Recusou ser Sísifo, voltar somente soube, voltar jamais. Teve aprender. Firmava humildade. As vezes se tinha odeio, outras vezes nada. A descoberta do medo é de criança, o medo não.

Catatava sobre a vida, ela está. Bússula voltava à estaca zero, até que de onde veio, seis vezes o sete e prosseguiu. Até que naquele instante via ele, lá de onde se via Ele, imensidão, gritou: Pai.

Era um abismo, logo eco, saltou. No tempo da velhice e demência que é que leu que a TV é janela que deturpa o horizonte. A vida passou, ela vai né.

Sete vezes o sete. A queda abismo, caminho e beco para o Pai fez-se, como são dados os milagres. 

Capítulo 3- REDENÇÃO

Derivava bubuia, canoa de pau tronco. Arrancado tempestade, madeira boa. Era cavalo, sobrevivente. Olhava ao redor, meio do oceano, mergulho.

Os pássaros generosamente pescavam os melhores sabores e lhes davam na boca. Nuvens, potável. Viveu bocado assim, bocado tempo. Até que viu do fundo lá da galáxia, antes de abrir a boca. 

Livre era quando se rebelava, seu corpo era política. Cor curtida de sol a pino no parecer do oráculo, avisos do vento. Não detinha a direção. Com ele ventos de. 

Boca abertíssima, foi possuído, tornou-se o Pai.

Por fim sorriu primaveramente de ser Kanunga, leve-leve. Tentou agarrar o conseguido do jeito capaz até esgotar, daí então que vencer é viciante. Fim.

Edição 5

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Vanessa Vieira

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