%20(9).png)
Viagem ao desejo pós-moderno
Laís Souza

É que eles gostam apenas de meninas Luísa.
De pele canela de sol (e não aquela que já nasce assim) mas que sabem quem são e não usam turbantes para não se apropriar culturalmente.
Meninas simples, de casas de pedra nas montanhas ou chácaras na praia não turística.
Olhos brilhantes, barriga e coxas lisas.
Cachos! Abertos, muito abertos, ondas zulu-zuleantes de mar.
Leem muito as Luísas, acadêmicas, estudantes, humanistas para além do consumismo.
Esquerdianas na economia, no olhar, no flanar e na rejeição das heranças que possuem.
Usam chinelo de dedo, vestido de tricô, fotografias artísticas e unhas naturais e curtas.
Tudo aliás é orgânico no nativo de luisares:
Móveis de madeira pura, buquês colhidos logo ali no jardim a meia altura, fruta da estação, panelas de cobre penduradas, o filhote adotado e o pão de linhaça.
Bebem vinho tinto, em qualquer copo, até de papel.
Aqueles com a mesma cor dos sacos em que os franceses carregam pão.
Agregam linho, miçangas, a seda ganhada dos vizinhos e os sapatos baixos.
Freudianas, junguianas, comportamentais, fazem terapias as Luísas.
Não reduzem a vida a dinheiro, e não tem como convencê-las a não dividir uma conta.
Ficam mais bonitas quando choram, aliás, quando chovem.
Luísas tomam banhos de chuva, ficam prateadas e argênteas riem aberto os seus dentes planetários de marfim enquanto o cabelo molha e seca.
Já viajaram muito, ao acaso somente.
Acreditam no amor e não falam sobre destino ainda que não duvidem.
Luísas cantam um pouco, dançam charmosamente mal e corriqueiras, escrevem, recitam e rememoram sem decorar, sem pressa e sem treino.
Possuem tradições e peças de família por gerações.
Elas escrevem na beira dos livros e conhecem as ervas.
Vegetarianas, elas mergulham. E ah, como mergulham fundo.
Afogam em naufrágio.
Viaja por lá todo desavisado feito ele
e feito Não-Luisas como eu.


