II 

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A vida me apresentou o risco de escassez na última semana. Não de alimentos, mas de alguma coisa que faz com que os alimentos possam ter gosto na língua e passem pela traquéia sem causar engasgos. Ainda não estou pronta para contar o que é. É preciso que haja mais concretude para que certas coisas sejam nomeadas. Por ora, tudo o que tenho ganas de fazer é andar, andar e andar. Só assim os pensamentos parecem cair onde devem, sem ficar rodopiando num balé sem ritmo no centro do meu crânio.

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De noite é pior, deito para dormir e os meus olhos se arregalam. Miro o escuro com atenção, cuido para que a respiração não atrapalhe o caminho de respostas que nem sei se existem, até que a exaustão me vence.

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Tenho acordado como se saindo de um coma, ou de um poço de areia movediça bem viscosa. Estranhamente, não é ruim.

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III

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Pensar na infância também está entre as coisas que mais tenho feito nos últimos dias. Vivi episódios de ir mal vestida ao meu próprio aniversário, porque me recusei a usar o vestido que minha mãe escolheu. Vendo as fotos, descubro que tentei me vestir exatamente como ela, mas isso não era o adequado naquela época. Aos 5, também fiz questão de ir à praia de camisola uma vez. Não recomendo.

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Hoje queria poder ir à praia.

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IV

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O fim de 2023 e o começo de 2024, até a semana passada, tiveram gosto de pão quentinho com manteiga derretida e vinho branco geladinho. Li muito, voltei a escrever, fui conhecer uma cidade nova não muito longe de Buenos Aires, vi arte, encontrei amigos.

Descobri que gosto de sorvete! Mas só se for de doce de leite, com pedaços de doce de leite cremoso.

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Me apaixono cada dia mais pela literatura Argentina e pela canadense Anne Carson. Me encanta uma certa forma de escrever que simplifica, não adjetiva demais, tenta mostrar mais que explicar. Textos que me fazem querer ler o dia inteiro, sem parar. Como faz?

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V

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Comecei uma mentoria de escrita com a Nara Vidal. Tem me revirado, deixado minhas tripas expostas ao sol. Dá medo. Que bom!

VI

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Sobre a Sarabatana, quero compartilhar que estamos super felizes com o início de nosso clube de leitura no dia 25/01. Vem, ainda dá tempo!

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Vamos discutir Os Tais Caquinhos, da Natércia Pontes. É um romance de formação visceral, incômodo e incrivelmente maravilhoso! Natércia, escritora forte como o sol de sua Fortaleza natal, concorreu ao Jabuti em 2012, com Copacabana Dreams. Nos Tais Caquinhos, ela nos apresenta a um universo sufocante e sujo, mas absolutamente atraente. Como a personagem principal do livro, ando precisando de um alento meio assim:

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A respiração suspensa do apartamento se confundia com a minha. Lúcio dormia em decúbito dorsal, o umbigo inchado revelando-se por entre as casas esgarçadas da camisa de botões. Sempre que me batia uma aflição, e sentia meu coração galopar no peito, ia até o quarto de Lúcio só para aferir a subida e descida de sua enorme barriga branca, a confirmação de que respirava e dormia como alguém vigoroso e com saúde plena e que jamais fosse desaparecer. Inspira, expira, inspira, expira. No escuro daquele jazigo de traças e umidade, recuperava o ritmo calmo da minha respiração, imitando a dele, sentindo no topo do cocuruto uma dormência irradiar e cobrir meu corpo num sopro morno e bom. A luz passageira de um carro acariciava meu rosto, me despertando do transe. Então esquecia que vivia no apartamento mais sujo do mundo e ia dormir em paz.

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VI

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Estamos com chamada aberta até o dia 05/02. O tema é livre, receberemos contos e poesias, em português e espanhol, sobre o que quer que a imaginação possa criar.

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Se você tem um texto e gostaria de vê-lo publicado na Sarabatana, escreva para revistasarabatana@gmail.com até 05 de fevereiro. Receberemos textos de até 10 mil caracteres, em word, fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5.

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É isso. Que em 2024 sejamos desejantes e possamos rir muito!

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📚Li um monte nas últimas três semanas. Meus favoritos foram La reina del baile, da Camila Fabbri, Autobiografia do vermelho, da Anne Carson e Diário Inconsciente, do Santiago Loza. Mas também faço menção honrosa ao Once Sur citado ali em cima e a El vestido blanco, da Nathalie Léger. Esse último, muito pesado e triste.

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📚Comecei a ler o Diario de una guardavidas, da Natália Figueroa Gallardo e The beauty of the husband, da Anne Meu-Novo-Amor Carson. De uns tempos para cá, passei a ler mais de um livro por vez, tenho pelo menos um na bolsa e um na cabeceira (às vezes um na mesa de centro da sala…).