Newsletter – 08/09/23
Essa é a Newsletter da Revista Sarabatana, enviada semanalmente, sempre às sextas-feiras.
Trilha sonora para essa terceira edição: On Giacometti, Hania Rani
Faz dois meses que cheguei à Argentina. Há uma semana, foi meu aniversário. Meus pais, que eu não via há um ano e meio, estão aqui para passar uma temporada. Tudo isso, que pode parecer tanto, ou tão pouco, tem me feito refletir muito sobre os sentidos da minha vida. Busco a todo instante descobrir o que é que me faz inteira. Percebo com cada vez mais clareza que o mundo das palavras é o meu norte. Tenho certeza de que a Sarabatana é o projeto mais empolgante em que já embarquei. Fico aqui, enquanto como alfajor e empanada quase todo dia, pensando em como queria poder compartilhar com quem nos lê essas imensas pequenas descobertas. Assim mesmo, grandes e sutis.
O primeiro passo para tudo isso acontecer foi dado durante a pandemia. Depois de seis meses de isolamento, há exatos dois anos, publiquei meu primeiro texto no Instagram. Ali, falava de uma noite mal dormida, como foram muitas das noites pandêmicas, não é mesmo? Ainda era tudo incerto e eu estava sozinha no meu apartamento, no coração da maior cidade da América do Sul. Entre muita terapia, corridas pelas ruas vazias da cidade e um trabalho que se fez importante naquele momento, criei coragem para dar luz ao que havia de mais íntimo em mim. Surgia para mim uma nova estrada. Nascia uma escritora.
(Frame de vídeo meu que publiquei com meu primeiro texto)
Foi também por essa época que comecei a me perceber curada de um divórcio sofrido e a me abrir para novas possibilidades. Oito meses depois, encontrei, num ensolarado parque, o meu atual companheiro. Por causa dele, um ano depois, me mudei, ainda que temporariamente, para Montreal. No período de mais estagnação, isolamento e solidão da vida, pude lançar as linhas que me levariam a estar aqui hoje, comendo alfajor e tomando litros de vinho em Buenos Aires enquanto escrevo essa carta.
Quando estava certa de que iríamos para o Canadá, onde meu companheiro viveu pelos últimos 25 anos, resolvi entrar em contato com a Lívia, que conheci nos tempos da faculdade de antropologia em Brasília e com quem havia perdido contato há muitos anos. Foi como um segundo novo casamento em menos de um ano. Vimos o tanto que tínhamos em comum e logo começamos a sonhar com um projeto de escrita conjunto. Uma editora? Um livro há quatro mãos (ou duas, porque não somos ambidestras. Rsrsrs)? Uma revista! Sim, um espaço onde pudéssemos ajudar pessoas a publicar seus textos. Sem pretensões maiores que emprestar nosso megafone para outras tantas vozes. Mas que também nos permitisse criar novas frentes nesse vasto mundo das letras.
Aliás, me parece que há muita mágica nisso. Cada vez que o texto de alguém vem à luz por obra da nossa Sarabatana, sinto, como diria Gil, que há de surgir uma nova estrela no céu. É excitante, me faz dançar sozinha pela cozinha enquanto preparo o jantar. Me faz acreditar que estou na estrada certa. Que sonhos podem, sim, virar nossa vida real.
Depois do Canadá, passei uma temporada na Albânia, onde consegui escrever bastante, voltei para Montreal e vim para a Argentina. Passamos também uma temporada no Paraguai e o viajar tem sido a toada dos meus dois últimos anos. Outro sonho que se tornou realidade.
(meu primeiro carimbo no passaporte em cirílico)
Percebo que estar em tantos lugares em tão pouco tempo, mudou muita coisa em mim. Aprendi a precisar de bem menos. Nunca imaginei que poderia viver com tão pouco. Minha vida cabe em uma mala (nem tão) pequena e no meu computador, onde gosto de observar meus próprios dedos criando novas histórias, ou contando do que vivo para além da minha própria imaginação. Inspiradas nisso, eu e Lívia abrimos a última chamada do ano para o envio de textos a serem publicados na Sarabatana. Se você tem algum texto motivado por viagens, reais ou metafóricas, e quiser vê-lo publicado, envia para a gente! Para mais informações, entra aqui: https://sarabatana.com/category/chamadas/. Ainda dá tempo, encerraremos o recebimento dos textos no dia 25 de setembro.
📚Por aqui, estou lendo Eileen, da Ottessa Moshfegh, um livro duro, mas muito bem escrito e bastante inspirador. Como a personagem principal, acho que sempre hei de desejar fugir.
🎧Tenho ouvido Hania Rani aos montes. Aliás, se puderem, vejam o show dela no Les Invalide, em Paris: https://www.youtube.com/watch?v=J5oZ80Daduc. Lindo de morrer!
📺Atrasadíssima, acabei a segunda temporada de White Lotus. Entretenimento de primeira qualidade.
Fora isso, muitas caminhadas e muitas viagens para dentro, que têm me feito sorrir por ser latino americana, por estar de volta a essa banda do mundo. Agradeço aos hermanos por todos os desejos de sorte e sorrisos inesperados. Gracias a la vida!
Até semana que vem!